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ReInvest+: como o BID quer transformar dívidas locais em ativos globais investíveis no Brasil

Iniciativa do BID pretende reciclar dívidas locais em ativos globais, liberando crédito e atraindo capital estrangeiro para infraestrutura e clima no Brasil.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançou recentemente a iniciativa ReInvest+, um programa inovador que promete transformar carteiras de dívidas locais em ativos globais investíveis. O objetivo é simples, mas ambicioso: atrair grandes investidores internacionais, reciclar crédito já existente e liberar capacidade para novos financiamentos.

Para o Brasil, que já possui histórico de operações de conversão de dívida com o BID e um mercado de capitais sofisticado, a proposta pode representar uma mudança de escala no acesso a recursos para projetos de infraestrutura, transição energética e sustentabilidade.

O que é o ReInvest+

O ReInvest+ parte de uma lógica clara: muitos bancos locais carregam carteiras robustas de empréstimos maduros e performados, mas que não atraem investidores internacionais porque estão em moeda local, com risco político e pouco padrão global de avaliação.

A proposta do BID é selecionar esses empréstimos, estruturá-los em pacotes com garantias multilaterais e hedge cambial/político, e convertê-los em instrumentos de mercado com grau de investimento. Esses títulos podem então ser adquiridos por fundos, seguradoras e investidores institucionais globais.

Os recursos liberados retornam aos bancos locais com uma condição: reinvestir em novos projetos alinhados a objetivos climáticos e de desenvolvimento. É o chamado ciclo de “reciclagem do capital”.

O potencial brasileiro – Experiência já em campo

O Brasil não parte do zero. Em 2024 e 2025, o BID já executou operações de conversão de dívida com o BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), no valor de US$ 65 milhões, convertendo exposições em dólar para reais e reduzindo riscos cambiais. Essa experiência criou precedente jurídico e operacional para a nova fase do ReInvest+.

Instrumentos prontos para escalar

O país dispõe de veículos de mercado consolidados que podem servir de base:

  • Debêntures incentivadas (Lei 12.431), já bastante utilizadas em projetos de infraestrutura e energia, com demanda crescente de investidores locais.
  • Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que atingiram recordes de captação em 2025, transformando recebíveis e carteiras de crédito em papéis líquidos e padronizados.
  • Infraestrutura de derivativos e registro na B3, somada à atuação do Banco Central com swaps cambiais, que permite estruturar operações de hedge de forma regulada e auditável.

Setores prioritários

Entre os setores mais promissores para receber recursos reciclados estão:

  • Transmissão e geração renovável, incluindo armazenamento de energia.
  • Saneamento básico e infraestrutura urbana.
  • Eficiência energética e modernização industrial.
  • Agro sustentável e logística de baixo carbono.

O desafio do risco cambial

O maior ponto de atenção está no custo do hedge cambial. Converter dívidas em real em títulos em dólar ou euro é essencial para atrair capital global, mas o diferencial de taxa (basis) pode encarecer a operação.

Aqui entra o papel do BID como garantidor parcial do risco e estruturador de tranches diferenciadas — onde investidores assumem apenas parte do risco, e o banco multilateral dá solidez às camadas mais vulneráveis. Sem essa engenharia, dificilmente o custo se manteria competitivo.

Governança e impacto

Outro diferencial do ReInvest+ é a exigência de governança rigorosa:

  • Auditoria independente dos empréstimos transformados.
  • Relatórios periódicos de impacto climático e social, para comprovar alinhamento com metas globais.
  • Padronização documental que permita comparabilidade e transparência aos investidores.

Essa estrutura não apenas abre portas para capital estrangeiro, mas também pressiona bancos e empresas locais a elevarem seus padrões de gestão e sustentabilidade.

O que esperar nos próximos meses

O BID abriu chamada para bancos interessados em participar do ReInvest+, com prazo até 24 de outubro de 2025. Os primeiros parceiros devem ser anunciados durante a COP30, no Brasil, o que colocará o país em posição central nesse novo modelo de financiamento.

Para investidores e originadores brasileiros, o recado é claro: quem estiver preparado com carteiras de crédito bem estruturadas, métricas de impacto e governança sólida poderá acessar capital internacional em condições inéditas.

Conclusão: reciclar crédito para multiplicar investimentos

O ReInvest+ representa uma oportunidade rara para o Brasil: transformar dívidas já existentes em ativos globais, liberar crédito local e atrair bilhões em recursos para projetos estratégicos. O sucesso, no entanto, dependerá da capacidade de alinhar engenharia financeira, mitigação de riscos e transparência.

Se conseguir equilibrar esses elementos, o país pode inaugurar uma nova fase de financiamento para infraestrutura e sustentabilidade, aproveitando o protagonismo da COP30 e seu mercado de capitais avançado para liderar a transição na América Latina.

Fontes de referência: Banco Interamericano de Desenvolvimento (IADB.org), Reuters, Green Finance LAC, ANBIMA, UrbanLab NYU.

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