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Negociantes globais intensificam ações para cortar emissões no transporte marítimo
Setor marítimo acelera medidas para reduzir gases de efeito estufa e atender metas da ONU até 2050, com apoio de tradings e bancos internacionais.
O transporte marítimo vive uma das maiores transformações de sua história. Depois de décadas com avanços tímidos, o setor entrou em uma fase de mobilização global para reduzir emissões de gases de efeito estufa, pressionado por regulações, investidores e clientes corporativos. Negociantes internacionais de commodities e grandes armadores estão na linha de frente de uma transição que redefine tanto o custo logístico quanto a imagem ambiental das cadeias globais de suprimento.
A Organização Marítima Internacional (IMO) aprovou um novo pacote regulatório em 2025 que impõe limites mais rígidos de emissões e cria um sistema global de precificação de carbono. O objetivo é reduzir em pelo menos 40% a intensidade de carbono até 2030 e alcançar neutralidade climática por volta de 2050. Navios com arqueação superior a 5 mil toneladas — responsáveis por cerca de 85% das emissões marítimas — serão obrigados a usar combustíveis de baixo carbono ou compensar o excedente de emissões. O sistema também prevê penalidades para embarcações ineficientes e incentivos a tecnologias mais limpas.
Pressão regulatória e reação do mercado
A União Europeia já havia dado um passo à frente ao incluir o transporte marítimo no seu sistema de comércio de emissões, tornando obrigatório o monitoramento e pagamento de créditos de carbono para viagens com origem ou destino em portos europeus. Essa política acelerou a resposta do setor privado. Grandes grupos de comércio global, como Cargill, Bunge, ADM, Shell e TotalEnergies, fortaleceram alianças para descarbonizar o transporte marítimo, criando métricas e metas próprias.
Entre as iniciativas mais relevantes está a Sea Cargo Charter, lançada por tradings e empresas de energia com o compromisso de medir e divulgar o desempenho de suas frotas em relação às metas de emissões da IMO. Os signatários relatam anualmente quanto de suas operações de transporte está alinhado aos limites de carbono definidos pelas autoridades internacionais. A iniciativa trouxe transparência inédita à logística marítima, tornando pública a pegada de carbono dos grandes exportadores e importadores.
Financiamento verde e inovação tecnológica
A sustentabilidade deixou de ser um diferencial reputacional para se tornar critério de acesso a crédito e contratos. O setor financeiro, por meio dos Poseidon Principles, passou a condicionar o financiamento de navios e operações de frete ao cumprimento de metas ambientais. Bancos internacionais agora classificam as carteiras de crédito marítimo conforme a eficiência energética das embarcações, estimulando renovação de frota e adoção de combustíveis alternativos como metanol verde, amônia e biocombustíveis marítimos.
A inovação tecnológica também ganhou força. Companhias de navegação vêm testando embarcações híbridas, velas automatizadas, sistemas de lubrificação a ar e softwares de otimização de rotas que reduzem o consumo de combustível em até 10%. Outras apostam em digitalização e sensores para medir emissões em tempo real, criando bases de dados auditáveis e integradas a sistemas de rastreabilidade ambiental.
Desafios e impasses geopolíticos
Apesar do avanço, os desafios continuam imensos. A substituição de combustíveis fósseis requer investimentos bilionários, e boa parte da frota mundial ainda opera com motores convencionais movidos a óleo pesado. Países exportadores de commodities, como o Brasil, temem que um sistema global de precificação de carbono penalize produtos enviados a longas distâncias, como minério e grãos. As negociações na IMO ainda buscam equilíbrio entre competitividade comercial e responsabilidade ambiental, com propostas de isenções graduais para nações em desenvolvimento.
Mesmo com as divergências, o consenso é claro: o transporte marítimo, que movimenta 90% do comércio mundial, precisa se alinhar à transição energética. O setor não apenas reflete, mas também define a velocidade dessa mudança. Empresas que dominarem tecnologias de baixo carbono e cadeias logísticas mais eficientes estarão na vanguarda de um mercado que passa a valorizar tanto a entrega quanto a origem.
Um novo eixo de competitividade global
A descarbonização dos mares é mais do que um desafio técnico. É um novo eixo de competitividade mundial, em que eficiência operacional e responsabilidade ambiental passam a navegar na mesma direção. As companhias que compreenderem cedo essa lógica não apenas reduzirão emissões, mas também conquistarão espaço nas cadeias de valor do futuro — cadeias onde sustentabilidade e rentabilidade serão, inevitavelmente, sinônimos.
Fonte de referência: Reuters, AP News, Organização Marítima Internacional (IMO), União Europeia.
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