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Indústria de máquinas cresce 10,6 % no acumulado de 2025, mas agosto revela sinais de desaceleração

Setor mantém alta no ano, mas queda de 5,6 % em agosto acende alerta sobre juros, exportações e ritmo de investimento.

A indústria brasileira de máquinas e equipamentos segue em trajetória de expansão, ainda que com freios visíveis no curto prazo. Entre janeiro e agosto de 2025, o setor registrou crescimento de 10,6 % no faturamento acumulado, totalizando cerca de R$ 200,8 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). O desempenho reflete um ambiente de demanda resiliente, puxado por segmentos como construção, agronegócio e bens de consumo não duráveis. No entanto, o mês de agosto isolado marcou um ponto de inflexão, com queda de 5,6 % em relação ao mesmo mês do ano anterior.

A retração mensal ocorreu após um primeiro semestre aquecido, em que o avanço acumulado até julho era de 13,6 %. A leitura do setor é que, embora o ciclo de investimentos ainda sustente bons resultados, as pressões externas e internas começaram a se fazer sentir. A alta dos juros, o câmbio volátil e as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros compõem o pano de fundo que explica parte da desaceleração.

Dinâmica do mercado interno e externo

As vendas domésticas seguem como principal motor da indústria, somando R$ 153,2 bilhões no período, alta de 12,7 % em relação a 2024. Já as exportações somaram US$ 8,3 bilhões, com leve recuo de 0,1 %. O desempenho mais tímido no comércio exterior tem forte relação com as sobretaxas aplicadas pelo governo norte-americano a bens industriais brasileiros, especialmente os ligados a máquinas e componentes metálicos.

Apesar disso, o setor mostra diversificação de destinos. As vendas para a América do Sul cresceram 17,2 %, e as exportações para a Europa subiram 11,6 %. O destaque ficou com a Argentina, que ampliou suas compras em 47,2 %, puxada por máquinas agrícolas (82,8 %) e equipamentos para construção civil (80,1 %).

Contexto macroeconômico e fatores explicativos

O recuo de agosto deve ser entendido dentro de um conjunto de variáveis. A política monetária ainda restritiva, mesmo com sinais de arrefecimento da inflação, mantém o custo de capital elevado, encarecendo financiamentos de longo prazo e retardando decisões de investimento. Além disso, o consumo aparente de bens de capital, indicador que mede o uso interno de máquinas, caiu 10,7 % no mês, refletindo menor ritmo de compras pelas indústrias e substituição mais lenta de equipamentos.

Outro ponto é a utilização da capacidade instalada, que se manteve em 78,8 %. O nível é saudável, mas sugere que muitas empresas ainda possuem margem de ociosidade, o que reduz a urgência de novas aquisições de máquinas. A carteira de pedidos, por sua vez, recuou 2,5 %, sinalizando um ajuste gradual na demanda.

No cenário internacional, as tensões comerciais e o ritmo desigual da economia global também afetam o setor. A recuperação da indústria norte-americana se mostra irregular, a Europa enfrenta altos custos energéticos e a China mantém crescimento moderado, o que reduz o apetite global por bens de capital.

Repercussões para a indústria e manutenção

Para a indústria de manutenção e projetos, a oscilação do setor de máquinas é um indicador-chave. Em períodos de desaceleração, as empresas tendem a postergar investimentos em novos equipamentos e priorizar a conservação do parque existente, o que amplia a demanda por serviços de manutenção, retrofit e automação.

Além disso, a conjuntura pode acelerar a adoção de tecnologias de eficiência operacional, como sensores, monitoramento de ativos e soluções de manutenção preditiva, como forma de preservar margens e competitividade sem expandir o capital imobilizado. Assim, mesmo com a queda pontual nas vendas, há espaço para inovação e modernização tecnológica dentro do parque já instalado.

O saldo do ano ainda é amplamente positivo, mas o fôlego extra do setor dependerá de uma melhora nas condições de financiamento, estabilidade cambial e retomada do comércio exterior. O ritmo de 2025 mostra que a indústria brasileira de máquinas continua robusta, mas atravessa uma fase de ajustes, uma pausa necessária para calibrar expectativas antes de um novo ciclo de expansão.

Fonte de referência: Diário Digital, Brasil Mineral, Abimaq, E-Commerce Brasil.

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