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Exportações brasileiras para os EUA recuam 20,3 % em setembro com tarifaço de Trump

No fechar de um setembro marcado por tensões no comércio internacional, surgiu um dado que mexeu fortemente no radar econômico brasileiro: as vendas do Brasil aos Estados Unidos caíram 20,3 % em comparação ao mesmo mês de 2024, justamente quando o restante do comércio externo ainda demonstrava fôlego. A razão principal? O “tarifaço” impetrado pelo governo Trump, com sobretaxas de até 50 % sobre produtos brasileiros, mudou as regras do jogo comercial. Nesse tabuleiro, cabe ao Brasil não apenas reagir, mas reconfigurar estratégias de inserção e negociação.

O recuo e o “tarifaço”

Em setembro de 2025, as exportações brasileiras com destino aos EUA recuaram 20,3 % — já sob o efeito das novas tarifas impostas pelo governo norte-americano. Dentro desse panorama, há uma distinção significativa: produtos sujeitos às novas sobretaxas apresentaram queda ainda mais intensa, de aproximadamente 25,7 %, enquanto os isentos mostraram alta de 12,3 % nas exportações. Esse contraste revela o grau de seletividade do impacto das novas medidas.

O “tarifaço” entrou em vigor em 6 de agosto de 2025, aplicando sobretaxas de até 50 % a produtos brasileiros. No mesmo mês, já havia sido observado recuo nas exportações de 18,5 %, e o impacto de setembro confirmou que os efeitos não se limitam a um choque inicial, mas se consolidam.

Apesar da retração para os EUA, o Brasil registrou recorde de exportações em valores totais para setembro, o que indica que parte da queda foi compensada por ganhos em outros mercados.

Mudanças estruturais na pauta e no destino das exportações

O fenômeno do tarifaço desencadeou ajustes visíveis na agenda comercial brasileira. Houve forte crescimento de exportações para países como China, Argentina e blocos da União Europeia, que compensaram parcialmente o recuo frente aos Estados Unidos. Em volume, o Brasil exportou 9,6 % mais em setembro em relação a 2024, considerando todos os destinos, mesmo com o risco imposto pelo mercado americano.

Setores antes bem posicionados no mercado norte-americano foram particularmente atingidos: aço, metalurgia, produtos agrícolas sensíveis e bens industriais com menor valor agregado. A International Chamber of Commerce (ICC Brasil) alertou para riscos de descontinuidade de cadeias produtivas, perda de empregos e queda na confiança de investimentos bilaterais.

O governo brasileiro reagiu com ações diplomáticas e jurídicas. O país recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC), aprovou a Lei de Reciprocidade Comercial (Lei 15.122/2025), que autoriza retaliações equivalentes a medidas consideradas abusivas, e mantém diálogo com os Estados Unidos para tentar reverter ou suavizar as barreiras. Como gesto de distensão, os EUA aceitaram retirar a sobretaxa de 10 % sobre celulose e ferro-níquel, medida interpretada como sinal de alívio diplomático.

Impacto macroeconômico: modesto, mas com áreas vulneráveis

Estimativas da Secretaria de Política Econômica indicam que o impacto do tarifaço no PIB brasileiro será relativamente contido, em torno de 0,2 ponto percentual entre agosto de 2025 e dezembro de 2026. Embora setor por setor o efeito seja relevante, no agregado econômico a exposição é limitada, já que os produtos diretamente tarifados representam parcela menor do total exportado.

Ainda assim, há riscos latentes. Efeitos de confiança, crédito e retração de investimentos podem ampliar o estrago além da projeção inicial. Setores como máquinas, eletrônicos, metalurgia, móveis, produtos químicos, madeira e têxteis são os mais suscetíveis a perdas de receita, emprego e competitividade.

Repercussões para a indústria e manutenção

Para empresas de manutenção industrial, fábricas e cadeias produtivas ligadas à indústria pesada ou bens de capital, o cenário exige atenção redobrada:

1. Custo de insumos e alternativas de fornecimento
Exportadores que perderam espaço nos EUA tendem a redirecionar produção ao mercado interno, o que pode alterar preços e disponibilidade de insumos. Empresas de manutenção devem observar a volatilidade no suprimento de componentes, especialmente na metalurgia e em máquinas industriais.

2. Revisão de estratégias logísticas e comerciais
Indústrias que tinham foco no mercado americano estão redesenhando rotas e contratos. Isso impacta cronogramas de manutenção, fluxo de produção e planejamento de investimentos.

3. Pressão sobre margens e busca por eficiência operacional
Com menor demanda externa, o foco em eficiência e confiabilidade se intensifica. Reduzir paradas não programadas, adotar manutenção preventiva e otimizar custos de operação tornam-se diferenciais de sobrevivência.

4. Risco geopolítico e contratos internacionais
Empresas com contratos de fornecimento global devem revisar cláusulas de força maior e seguros, considerando as novas tensões comerciais.

Quando um país do porte do Brasil enfrenta um choque dessa magnitude em seu comércio com os Estados Unidos, o teste não é apenas econômico, mas estratégico. O desafio não está em evitar o impacto, mas em transformá-lo em vetor de adaptação. O futuro das exportações brasileiras dependerá da rapidez com que governo e setor produtivo reposicionarem a pauta — buscando inovação, diversificação e eficiência como antídotos ao protecionismo.

Fonte de referência: Reuters, CNN Brasil, Agência Brasil, B3 Bora Investir, InfoMoney, ICC Brasil.

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