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China impõe novas restrições à exportação de terras raras e amplia tensão com os Estados Unidos
Governo chinês endurece o controle sobre exportações de terras raras, insumos essenciais para semicondutores, veículos elétricos e equipamentos militares. Medida acende alerta global sobre dependência industrial.
A China anunciou um novo pacote de restrições à exportação de materiais de terras raras, ampliando o controle sobre um grupo de insumos indispensáveis à indústria moderna, de chips a turbinas e motores elétricos. As regras, publicadas pelo Ministério do Comércio (MOFCOM) no dia 9 de outubro de 2025, impõem exigências de licenciamento e fiscalização mais rigorosas, afetando diretamente cadeias produtivas de alta tecnologia em todo o mundo.
O governo chinês justificou as medidas com base em motivos de segurança nacional, afirmando que o uso de terras raras possui caráter “dual”, com aplicações civis e militares. O novo regime, que entra em vigor em duas fases, passará a exigir licenças específicas de exportação a partir de dezembro inclusive para produtos fabricados fora da China que contenham materiais ou tecnologia de origem chinesa.
O que muda nas novas regras
As restrições atingem tanto a exportação direta dos elementos quanto os produtos derivados que utilizam suas propriedades magnéticas e condutivas. O número de elementos controlados passou de sete para doze, com a inclusão de metais como holmium, erbium, thulium, europium e ytterbium — todos essenciais na fabricação de ímãs permanentes, fibras ópticas, lasers e semicondutores.
O Ministério do Comércio determinou ainda que as empresas exportadoras deverão declarar o uso final dos materiais e comprovar que eles não serão destinados a fins militares ou sensíveis. Cada pedido de licença será avaliado individualmente, e companhias ligadas à defesa estrangeira não receberão autorização.
A partir de 1º de dezembro, as restrições passam a ter caráter extraterritorial, ou seja, produtos desenvolvidos fora da China, mas que utilizem terras raras extraídas ou processadas no país, também precisarão de autorização prévia. Essa regra é inspirada na “foreign direct product rule” usada pelos Estados Unidos em seu próprio controle de exportações.
Reações internacionais e risco de desacoplagem econômica
O anúncio provocou reação imediata em Washington. Autoridades norte-americanas classificaram a decisão como “coerção econômica” e alertaram que o aumento de restrições pode acelerar um processo de desacoplagem entre as economias — um rompimento gradual das cadeias de suprimento globais em torno da tecnologia.
Segundo o Financial Times, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que as novas medidas representam “um risco direto à estabilidade das cadeias globais de valor”, enquanto o representante comercial dos Estados Unidos defendeu uma resposta coordenada com aliados do G7. Em comunicado conjunto, o grupo das sete maiores economias ocidentais prometeu diversificar fornecedores e fortalecer a produção interna de minerais críticos.
Já o governo chinês rebateu as críticas e afirmou que suas ações são legítimas e necessárias para proteger recursos estratégicos e evitar “transferências indevidas de tecnologia”. Porta-vozes de Pequim acusaram os EUA de “hipocrisia”, lembrando que Washington também impõe sanções extraterritoriais sobre semicondutores e equipamentos de inteligência artificial.
Por que as terras raras importam tanto
Embora o nome possa sugerir escassez extrema, as terras raras são relativamente abundantes na crosta terrestre. O diferencial está na dificuldade e no custo de extração e refino, um processo complexo, poluente e altamente concentrado na China. O país é responsável por mais de 70 % da produção global e por cerca de 90 % do refino químico, etapa indispensável para transformar o minério em compostos utilizáveis pela indústria.
Esses materiais estão presentes em semicondutores, painéis solares, turbinas eólicas, veículos elétricos, sensores ópticos e sistemas de defesa. Em resumo, sem terras raras, grande parte das tecnologias verdes e digitais modernas não existiria.
Efeitos imediatos nas cadeias industriais
As novas regras devem causar interrupções temporárias nas cadeias de suprimentos de eletrônicos e energia limpa, principalmente em fabricantes de ímãs permanentes e componentes eletrônicos que dependem de materiais processados na China. Analistas da Reuters apontam que empresas ocidentais precisarão aumentar estoques e buscar fontes alternativas, enquanto governos aceleram projetos de mineração e refino interno, nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Índia.
A curto prazo, especialistas estimam que os preços internacionais de elementos magnéticos e de terras raras pesadas subirão entre 15 % e 30 %, refletindo a incerteza sobre a oferta. No médio prazo, há expectativa de investimento em reciclagem de metais críticos e inovação em materiais substitutos, como ímãs livres de neodímio e ligas não magnéticas avançadas.
Implicações para a indústria e manutenção global
Para setores industriais que utilizam motores elétricos, geradores, sensores e equipamentos de automação, o impacto é duplo. Além do risco de aumento de custos, há a possibilidade de atrasos na reposição de componentes importados que dependem desses materiais. Isso pode exigir ajustes nos cronogramas de manutenção preventiva, revisão de estoques e renegociação de contratos com fornecedores.
Fabricantes de turbinas eólicas, veículos elétricos e equipamentos médicos de alta precisão já avaliam replanejar suas cadeias logísticas e ampliar contratos de fornecimento com países fora do eixo chinês. O Brasil, detentor de uma das maiores reservas de terras raras do mundo, surge como um potencial beneficiário, embora ainda enfrente gargalos em tecnologia de refino e sustentabilidade ambiental.
Um jogo geoeconômico de longo prazo
As restrições impostas por Pequim não são um episódio isolado. Elas se inserem num contexto mais amplo de disputa por liderança tecnológica entre China e Estados Unidos. Cada bloco usa os instrumentos de que dispõe: Washington limita o acesso chinês a chips e máquinas de litografia; Pequim, por sua vez, controla os minerais essenciais para produzi-los.
A consequência mais provável é uma reconfiguração lenta, porém estrutural, das cadeias de produção global, com custos mais altos, menor eficiência e crescente regionalização. O mundo industrial entra, assim, em uma nova era de protecionismo tecnológico, em que insumos estratégicos se tornam armas de política econômica.
Fonte de referência: Wall Street Journal, Financial Times, Reuters, Al Jazeera, MOFCOM (Ministério do Comércio da China), CSIS.
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