Notícias

Incertezas sobre o B16: governo admite falta de tempo para elevar mistura de biodiesel em 2026

A meta de ampliar a mistura obrigatória de biodiesel para 16% em março de 2026 enfrenta dúvidas técnicas e de cronograma, após o atraso do B15.

A trajetória de aumento gradual da mistura de biodiesel no diesel, definida pela Lei do Combustível do Futuro, começa a enfrentar obstáculos práticos. Embora a meta oficial estabeleça o avanço para 16% de biodiesel (B16) em março de 2026, o próprio Ministério de Minas e Energia (MME) admite que o cronograma pode não ser cumprido a tempo.

Em evento setorial realizado em Brasília, o diretor de Biocombustíveis do MME, Marlon Arraes, afirmou que ainda não há estudos técnicos conclusivos que comprovem a viabilidade do aumento da mistura no prazo previsto. Segundo ele, a implementação do B16 depende da conclusão de análises conjuntas com a indústria automotiva e de autopeças, além de avaliações sobre desempenho, emissões e estabilidade do combustível.

Um cronograma que já começou a escorregar

A Lei do Combustível do Futuro prevê acréscimos de um ponto percentual ao ano na mistura obrigatória, até atingir B20 em 2030. No entanto, a experiência recente com o B15 mostra que a execução desse cronograma pode ser mais complexa que o planejado.

A elevação de 14% para 15%, originalmente marcada para março de 2025, acabou sendo adiada e só entrou em vigor em agosto do mesmo ano. Na ocasião, o governo citou o risco de pressão inflacionária e a necessidade de ampliar o diálogo técnico com os fabricantes de motores a diesel.

O episódio reforçou a percepção de que a expansão da mistura exige coordenação mais ampla, envolvendo produtores, distribuidoras, fabricantes e órgãos reguladores. Agora, diante da proximidade de março de 2026, o mesmo cenário se repete, com incertezas sobre prazos, custos e capacidade operacional.

Produção e oferta não são o problema

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) afirmam que o parque produtivo nacional tem capacidade instalada suficiente para atender a demanda de B16. O setor projeta que seriam necessários cerca de 700 milhões de litros adicionais de biodiesel em relação ao volume atual, um incremento considerado plenamente viável dentro da estrutura existente.

O gargalo, segundo representantes da indústria, é regulatório. Falta a conclusão dos estudos de desempenho e certificação dos novos percentuais, além da adequação da logística e do controle de qualidade nas bases de mistura e distribuição.

Consultorias privadas estimam que o consumo de biodiesel no país deve crescer entre 7% e 12% em 2026, caso o B16 seja implementado dentro do prazo. Um eventual adiamento reduziria essa projeção e poderia adiar investimentos em novas unidades de processamento de matérias-primas.

Fatores econômicos e políticos pesam na decisão

Além das questões técnicas, fatores macroeconômicos também entram na equação. O governo teme que um aumento antecipado da mistura gere pressão sobre os preços do diesel, especialmente se os custos dos óleos vegetais permanecerem elevados. Em um cenário de inflação resistente e margens apertadas no transporte, qualquer alta adicional no combustível tende a ser politicamente sensível.

Por outro lado, o setor de biodiesel argumenta que a política de elevação gradual da mistura contribui para reduzir emissões, aumentar a segurança energética e fortalecer a cadeia de produção nacional. Entidades defendem que os avanços previstos na lei devem ser cumpridos, desde que respaldados por critérios técnicos e previsibilidade regulatória.

Contexto e implicações econômicas

A indefinição em torno do B16 evidencia um desafio maior: equilibrar ambição ambiental, estabilidade de preços e viabilidade operacional. O Brasil tem uma das políticas de biocombustíveis mais consolidadas do mundo, mas ainda enfrenta limitações logísticas e regulatórias que travam a expansão do biodiesel em ritmo compatível com o plano legal.

Para a indústria de manutenção e engenharia, o tema também representa oportunidade. A expansão da mistura implica adaptações em sistemas de armazenamento, transporte e controle de qualidade nas refinarias e distribuidoras. O setor pode se beneficiar de novas demandas por infraestrutura, monitoramento e soluções de eficiência energética associadas ao uso de biocombustíveis.

Com o cronograma sob análise e as pressões econômicas em alta, a decisão sobre o avanço para o B16 tende a ser um dos principais testes de gestão da política energética em 2026. Entre o pragmatismo técnico e o compromisso climático, o governo precisará calibrar o tempo e o tom da transição sem comprometer a confiança do mercado.

Fonte de referência: Ministério de Minas e Energia, Agência Gov, Reuters, Canal Rural, epbr, Valor Econômico.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS:

Empresas Parceira