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Queda histórica nos preços do couro pressiona indústria brasileira e reduz valor da cadeia produtiva

A indústria brasileira de couro vive um dos períodos mais desafiadores das últimas décadas. O preço das peles bovinas, que já representaram parcela relevante da receita da pecuária, despencou para o menor patamar em mais de dez anos, provocando perdas ao longo de toda a cadeia produtiva.

De acordo com dados divulgados pela Reuters e pela Durli Leathers, o valor médio das peles caiu de US$ 59 em 2014 para cerca de US$ 5 em 2025, o que representa uma desvalorização superior a 90 %. Nesse mesmo intervalo, a participação do couro no valor total do boi passou de 14 % para apenas 0,5 %, uma mudança estrutural que reduziu drasticamente o peso econômico do produto dentro da cadeia da carne bovina.

Impacto direto sobre o setor

O Brasil continua sendo um dos maiores exportadores de couro do mundo, mas enfrenta agora uma crise de rentabilidade. Segundo o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), as exportações somaram US$ 1,25 bilhão em 2024, sendo que cerca de 80 % da produção nacional é destinada ao mercado externo.

A queda de preços, porém, vem corroendo as margens do setor. Curtumes e processadoras relatam dificuldades em manter operações rentáveis, já que o preço pago pelo couro não cobre os custos de processamento, transporte e tratamento ambiental. Empresas de médio porte começam a reduzir turnos e capacidade produtiva, enquanto as maiores buscam alternativas em nichos de alto valor agregado, como couro automotivo e artigos de luxo.

Fatores que explicam a desvalorização

Especialistas apontam uma combinação de fatores que explicam o movimento. O principal deles é o excesso de oferta global, resultado de um abate elevado de gado em diversos países produtores. Com o mercado inundado de peles, os compradores internacionais reduziram os preços.

Além disso, a concorrência dos couros sintéticos, fabricados com base petroquímica e impulsionados pelo marketing de “sustentabilidade vegana”, vem ocupando espaço crescente nos setores de moda, calçados e estofados automotivos. Esses materiais são mais baratos e, em muitos casos, mais fáceis de padronizar, o que pressiona ainda mais a demanda pelo couro natural.

Outro problema é a qualidade das peles brasileiras. Marcas de ferro, parasitas e falhas sanitárias ainda são comuns, o que reduz o valor de exportação e limita o país a vender produtos de menor valor agregado. A Durli Leathers, que lidera exportações do setor, relata que o couro nacional frequentemente é penalizado por defeitos de origem, que comprometem a competitividade frente a países como Itália e Vietnã.

Contexto e implicações econômicas

O cenário atual acende um alerta para toda a cadeia pecuária. O couro, antes considerado um subproduto valioso, tornou-se praticamente residual no cálculo de rentabilidade dos frigoríficos. Isso altera a dinâmica de preços e reduz o incentivo à industrialização, concentrando ganhos apenas na carne e deixando a indústria de transformação em situação delicada.

Há, contudo, um movimento de reação. Grandes grupos vêm investindo em rastreabilidade, certificação ambiental e design aplicado, buscando reposicionar o couro como produto sustentável e premium. O Brasil ainda tem vantagem competitiva em volume e know-how técnico, mas precisa modernizar o modelo de produção para capturar valor.

Sem essa virada estratégica, o risco é que o país continue exportando couro bruto a preços deprimidos, enquanto o valor agregado e a inovação permaneçam no exterior. A crise atual pode, portanto, ser o ponto de inflexão que define o futuro da indústria, entre a estagnação e a reinvenção.

Fonte de referência: Reuters, Durli Leathers, Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), MDIC

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