Notícias

Economia aquecida eleva risco de desancoragem das expectativas de inflação, alerta Banco Central

O avanço consistente da atividade econômica brasileira em 2025 começa a preocupar o Banco Central. Apesar do controle gradual dos índices de preços ao consumidor, a autoridade monetária vê sinais de desacoplamento das expectativas de inflação, cenário em que agentes de mercado passam a projetar aumentos de preços acima da meta oficial, o que compromete a credibilidade da política monetária.

O tom de cautela foi reiterado em comunicados recentes e no Relatório de Política Monetária de junho, que destacou a resiliência da inflação de serviços, a alta utilização da capacidade produtiva e a possibilidade de um hiato do produto positivo, quando a economia opera acima de seu potencial, como fatores que mantêm a pressão sobre os preços.

Embora o país viva um ciclo de crescimento mais firme, impulsionado pelo consumo e pelo investimento público, o Banco Central teme que o ritmo aquecido reduza a eficácia da atual política de juros e desancore as expectativas para 2026.

Expectativas em teste

O regime de metas de inflação depende fortemente da confiança dos agentes econômicos. Quando consumidores, empresários e investidores acreditam que o Banco Central será capaz de manter os preços sob controle, as expectativas permanecem alinhadas à meta. No entanto, se essa confiança se perde, as projeções se afastam e criam um círculo vicioso: empresas elevam preços preventivamente, trabalhadores pedem reajustes maiores e contratos passam a ser corrigidos por índices mais altos.

Nos últimos meses, o mercado financeiro revisou as projeções para inflação em 2025 para 4,8 %, segundo dados do boletim Focus. Embora o número esteja abaixo dos picos observados em 2024, ainda supera a meta oficial de 3 % definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A diferença indica que a confiança na convergência plena da inflação ainda não foi restaurada.

A inflação de serviços, mais sensível ao aquecimento da demanda, continua em trajetória superior à média geral, o que reforça o alerta. Segmentos ligados a alimentação fora de casa, transportes e recreação registram variações acima do índice cheio, sugerindo que a demanda doméstica segue robusta mesmo diante de custos de crédito elevados.

Causas e contexto macroeconômico

Parte do otimismo que sustenta a atividade econômica vem do mercado de trabalho aquecido e de programas de estímulo fiscal voltados à infraestrutura e ao consumo popular. Embora positivos para o crescimento, esses fatores ampliam a massa de renda e alimentam a demanda agregada, justamente o componente que o Banco Central tenta moderar para conter a inflação.

Além disso, a política monetária ainda restritiva não tem produzido o efeito esperado sobre alguns segmentos. Linhas de crédito direcionado, programas públicos e subsídios setoriais mantêm a liquidez no sistema, o que reduz a potência dos juros altos. Ao mesmo tempo, o câmbio relativamente estável e a melhora do comércio exterior suavizam parte do aperto financeiro, prolongando o fôlego da economia.

A combinação de crescimento persistente, inflação de serviços resistente e expectativas menos ancoradas cria um ambiente de vigilância constante para a autoridade monetária. Em seus comunicados mais recentes, o Banco Central reforçou que eventuais cortes adicionais na taxa Selic dependem de evidências mais claras de desaceleração dos preços.

Implicações para o mercado e a indústria

Para a indústria e os setores de manutenção, um cenário de economia aquecida com juros altos representa uma equação complexa. O crédito corporativo encarece, e os investimentos em máquinas e infraestrutura tendem a ser adiados. Em contrapartida, a forte demanda por bens e serviços mantém as linhas de produção ativas e eleva a necessidade de eficiência operacional, impulsionando o mercado de automação, manutenção e retrofit.

Se a inflação se mantiver resistente, empresas industriais podem enfrentar pressão sobre custos, especialmente em energia, insumos e mão de obra qualificada. Isso reforça a busca por produtividade e inovação como antídotos contra a perda de margens.

O desafio do Banco Central, portanto, é equilibrar o controle da inflação sem asfixiar o crescimento. Com a economia operando acima do previsto e expectativas ainda sensíveis, a autoridade monetária caminha sobre uma linha estreita: afrouxar demais a política de juros pode reacender o fogo inflacionário, endurecer em excesso pode frear a retomada. A resposta, mais do que técnica, será um teste de credibilidade, o verdadeiro ativo de uma política monetária bem-sucedida.

Fonte de referência: The Rio Times, Banco Central do Brasil, Ipea, Agência Brasil, Valor Econômico.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS:

Empresas Parceira