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Mercado de carbono: Brasil pode faturar bilhões, mas trava na falta de regulação

Estimativas apontam que o Brasil pode chegar a US$ 100 bi/ano no mercado de carbono, mas a ausência de regras claras mantém investidores em compasso de espera.

O Brasil desponta como uma das maiores promessas no mercado global de carbono. Estudos da ICC Brasil e WayCarbon projetam cenários em que o país poderia faturar até US$ 100 a 120 bilhões anuais até 2030, considerando tanto o mercado regulado quanto o voluntário. Esse número, no entanto, representa o teto de um cenário altamente otimista, baseado em escala de projetos, precificação robusta e governança consolidada.

Outras projeções são mais conservadoras. A McKinsey estima ganhos em torno de US$ 15 bilhões apenas no mercado voluntário até 2030, enquanto o Earth Innovation Institute calcula algo entre US$ 13 e 48 bilhões para créditos jurisdicionais (REDD+) na Amazônia, dependendo da capacidade de reduzir o desmatamento com integridade.

O que já existe: o SBCE

O arcabouço legal avançou com a sanção da Lei nº 15.042/2024, que criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). O desenho prevê que empresas que emitirem acima de 10 mil toneladas de CO₂ equivalente por ano reportem suas emissões, e aquelas acima de 25 mil tCO₂e/ano passem a ter obrigações de compensação ou redução.

Apesar de a lei estar em vigor, o sistema ainda não opera de fato: falta regulamentação infralegal que defina setores cobertos, limites de emissões, regras de monitoramento (MRV) e integração com mercados internacionais. Em setembro de 2025, o Senado realizou audiência pública justamente para discutir esses pontos e acelerar a implementação do SBCE.

O travamento regulatório

A ausência de regras detalhadas gera insegurança jurídica, principal entrave para destravar investimentos. Sem clareza sobre titularidade, critérios de validação e integração com padrões internacionais (como ART-TREES, Verra e Gold Standard), compradores e financiadores permanecem cautelosos.

Esse gargalo é ainda mais relevante porque, globalmente, a precificação de carbono já cobre 28% das emissões e movimentou mais de US$ 100 bilhões em 2024, segundo o World Bank. Enquanto isso, o Brasil observa oportunidades escorrerem para países que oferecem maior previsibilidade.

Movimentos no mercado voluntário

Apesar das incertezas, há avanços no campo voluntário e nos programas jurisdicionais. O estado do Tocantins projeta levantar até R$ 2,5 bilhões com créditos, enquanto o Acre fechou acordos com bancos internacionais para venda de créditos jurisdicionais. Grandes empresas de tecnologia, como Google e Microsoft, já compraram créditos de remoção florestal da brasileira Mombak, dando fôlego a projetos de reflorestamento.

Esses exemplos mostram que o mercado existe, mas ainda opera em bolsões de oportunidade, sem escala nacional que só virá com o SBCE regulamentado.

Impactos para a indústria e manutenção

O mercado de carbono não é apenas tema ambiental: ele tem implicações diretas na estratégia empresarial e industrial. Indústrias intensivas em emissões, como siderurgia, petróleo e gás, papel e celulose, terão que integrar custos de carbono em seus modelos de negócio. Isso pressiona não só os investimentos em tecnologias mais limpas, mas também políticas de eficiência energética, digitalização de processos e manutenção de ativos para reduzir emissões.

Empresas que conseguirem se antecipar — investindo em inovação e rastreabilidade — terão vantagem competitiva tanto para exportar quanto para acessar financiamento internacional, cada vez mais condicionado a critérios ESG.

Conclusão: potencial imenso, mas travado pela insegurança

O Brasil tem potencial real de liderança no mercado global de carbono, com estimativas que variam de US$ 15 bilhões a US$ 100 bilhões anuais. No entanto, enquanto a regulação não avançar, esse potencial continuará sendo apenas projeção. Para a indústria, a mensagem é clara: preparar-se desde já para um cenário em que custo de carbono será inevitável e onde eficiência, manutenção e inovação tecnológica não serão apenas diferenciais, mas condições de sobrevivência.

Fonte de referência: ICC Brasil/WayCarbon; McKinsey; Earth Innovation Institute; Agência Senado; Agência Brasil; World Bank; IETA; Reuters; Capital Reset; Fecomercio; BNDES; CPI

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